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Entre o café e o hambúrguer: o cardápio atual da diplomacia Brasil-EUA

  • Foto do escritor: Petit Journal
    Petit Journal
  • 29 de set.
  • 4 min de leitura

A relação entre Brasil e Estados Unidos é marcada por proximidade histórica, interesses econômicos e disputas políticas que atravessam mais de dois séculos. O tema ganhou destaque novamente em meio às discussões sobre comércio, investimentos e o papel que cada país desempenha no cenário internacional.


Esta análise se inspira em uma aula gratuita do Petit Cursos e organiza de forma clara o panorama histórico e atual da diplomacia entre as duas nações.


O início: reconhecimento da independência e laços iniciais


Os Estados Unidos foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil em 1824, apenas dois anos após a ruptura com Portugal. Esse gesto criou laços precoces, reforçados pela presença de embaixadores em Washington e no Rio de Janeiro desde o século XIX. Um marco simbólico dessa relação foi a visita de Dom Pedro II à Filadélfia, em 1876, para a Exposição do Centenário da Independência dos EUA, consolidando a percepção de proximidade entre os dois países.


Com a Proclamação da República, em 1889, essa afinidade se intensificou. O Brasil passou a se inspirar diretamente no modelo norte-americano, adotando o nome “Estados Unidos do Brasil” e estruturas institucionais como a Suprema Corte e o sistema bicameral. O alinhamento se tornou pragmático, sobretudo a partir do Barão do Rio Branco, chanceler de 1902 a 1912, que priorizou a relação com Washington como parte de uma estratégia de defesa das fronteiras e inserção internacional.


A centralidade dos EUA na política externa brasileira


Ao longo do século XX, os Estados Unidos se consolidaram como o ator mais influente na política externa brasileira. Essa centralidade, no entanto, não significava ausência de conflitos. Durante a Segunda Guerra Mundial, o Brasil lutou ao lado dos Aliados e fortaleceu sua posição como parceiro dos EUA. Já no período da Guerra Fria, o país orbitava a esfera de influência americana, mas nem sempre de forma dócil: governos militares, embora alinhados contra o comunismo, mantiveram tensões em temas estratégicos.


O golpe de 1964 contou com apoio dos EUA, mas os regimes seguintes não se limitaram à submissão. Ao contrário, buscavam autonomia em certas agendas, especialmente no campo econômico. Essa ambivalência ilustra como a diplomacia brasileira sempre oscilou entre duas posturas: o credibilismo, que busca alinhamento com Washington para ganhar confiança internacional e atrair investimentos, e o autonomismo, que defende maior liberdade de ação mesmo que contrarie interesses americanos.


Liberalização econômica e relações maduras


Nos anos 1990, o Brasil embarcou em reformas de liberalização econômica que convergiam com as ideias defendidas pelos EUA, mas não por imposição. O Plano Real (1994), por exemplo, foi criticado por economistas americanos, que duvidavam de sua eficácia. Ainda assim, o programa consolidou a estabilização da economia e reforçou o prestígio internacional brasileiro.


Nesse período, consolidou-se a noção de que o Brasil possuía uma relação “madura” com os EUA: capaz de cooperar em temas estratégicos e, ao mesmo tempo, divergir em pontos sensíveis sem comprometer o diálogo. O governo Lula (2003-2010) é um bom exemplo desse equilíbrio, combinando credibilidade junto a Washington com iniciativas autônomas de aproximação a países da África, América Latina e Caribe.


Comércio e investimentos: café e hambúrguer na mesa


O símbolo histórico do café brasileiro e o hambúrguer norte-americano representam bem a interdependência econômica entre os dois países. Desde o século XIX, os EUA foram o principal mercado para o café brasileiro, ao passo que, no século XXI, grandes empresas americanas se tornaram atores centrais na economia brasileira.


Segundo dados do Banco Central, em 1971 os EUA respondiam por 37,6% do estoque de investimentos estrangeiros no Brasil. Hoje, a fatia gira em torno de 20%, ainda representando a maior participação individual. Em 2023, o Brasil foi o segundo país que mais recebeu investimentos estrangeiros diretos no mundo, atrás apenas dos EUA, e boa parte desses recursos tem origem americana. Isso reforça como a economia brasileira continua profundamente conectada à norte-americana.


Cultura, poder e influência


A relação não se limita à economia. Os EUA são referência cultural no Brasil, com enorme influência sobre música, cinema, moda e estilo de vida. Esse “soft power” norte-americano criou um ambiente no qual referências vindas de Hollywood ou da Casa Branca são familiares ao brasileiro médio. Por outro lado, o Brasil também projeta cultura e identidade, embora em escala mais limitada.


O cenário atual: desafios e recalibração


Nos últimos anos, a relação Brasil-EUA passa por recalibrações. Washington busca conter a crescente influência da China na América Latina, enquanto Brasília tenta equilibrar parcerias estratégicas sem abrir mão de autonomia. Questões como mudanças climáticas, Amazônia, comércio agrícola e tecnologia estão no centro da mesa diplomática.


Para o Brasil, manter uma boa relação com os EUA continua sendo fundamental — mas não mais exclusiva. O desafio atual é combinar credibilidade internacional com autonomia estratégica, ampliando parcerias sem perder espaço no maior mercado global.


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